AUTO E BAIXO DA COMPADECIDA

O Auto da Compadecida é uma peça teatral do autor brasileiro Ariano Suassuna, usando referências da linguagem de cordel e de outras obras, ele retrata a luta do sertanejo para sobreviver em uma terra com poucos recursos e na qual os mais afortunados não estão preocupados em ajudar o próximo sem tirar nenhuma vantagem.

O Auto da Compadecida se tornou um clássico na cultura brasileira, foi criada como uma peça em três atos em 1955, já tendo sua primeira encenação em 1956 em Recife. Ela também foi encenada em 1974. Essa peça é a principal responsável por projetar Ariano Suassuna em todo país.

A peça foi para as telas grandes dos cinemas em 1969, com o filme “A Compadecida”, aonde Antônio Fagundes interpreta Chicó, Armando Bógus interpreta João Grilo; Regina Duarte interpretou Compadecida, já a segunda adaptação para os cinemas foi realizada pelos trapalhões em “Os Trapalhões no Auto da Compadecida”, os inseparáveis amigos João Grilo e Chicó são interpretados respectivamente por Renato Aragão e Dedé Santana, já a Compadecida é interpretada por Betty Gofman. O filme do grupo humorístico Os Trapalhões, foi bem recebido pela crítica, mostrou que o grupo pode fazer uma atuação realmente competente mesmo quando a história pedia seriedade.

Porém o que realmente fez “O Auto da Compadecida” ficar conhecido em todo o Brasil, foi a minissérie lançada por uma grande emissora nacional em 1999, lançada em 4 capítulos, trouxe a história passada no vilarejo fictício de Taperoá no sertão da Paraíba em 1930 em que a esperteza de João Grilo vivido por Matheus Nachtergaele e seu grande amigo mentiroso e covarde, Chicó vivido por Selton Mello tentam sobreviver aplicando golpes e se metendo em confusão. Trazendo Fernanda Montenegro como a Compadecida, essa minissérie fez um enorme sucesso e teve grandes atores além dos já mencionados como; Diogo Vilela como Eurico dono da padaria onde trabalham João e Chicó, Denise Fraga sendo Dora a esposa infiel de Eurico, que são donos de Bolinha a cadela que é melhor tratada que os funcionários da padaria. Rogério Cardoso como o Padre João, que é enganado por João Grilo para fazer o enterro da cadela e Lima Duarte representa o Bispo que acaba negociando a parte da do pagamento do enterro.

Ainda consta nesse elenco, Virginia Cavendish como Rosinha filha do Coronel de Taperoá Antônio Moraes representado por Paulo Goulart, Aramis de Andrade como cabo Setenta e Bruno Garcia como Vicentão o valentão da cidade, os personagens Rosinha, cabo Setenta e Vicentão, não fazem parte do roteiro original e sim de outras peças do próprio Ariano e foram adaptados para essa minissérie. Marco Nanini, que representa o cangaceiro Severino e Enrique Diaz como seu subordinado Cabra. Assim que acontece os eventos que culminam na morte de vários personagens eles se encontram para o julgamento, sendo a princípio todos pecadores, devendo então ser encaminhados para o Inferno pelo próprio diabo representado por Luís Melo que advoga a causa no Tribunal das Almas  para o juiz, Jesus interpretado por Maurício Gonçalves, sendo que João Grilo que também está sendo julgado acaba atuando como advogado de defesa de todos e pede a intervenção de Nossa Senhora, a Compadecida representada por Fernanda Montenegro.

A minissérie foi um tremendo sucesso com grande repercussão de ótimas críticas e detém uma nota de 4,3 de 5 no Adoro Cinema.

Em 2000, Guel Arraes adaptou a minissérie como um filme sendo lançado em 15 de setembro de 2000 nos cinemas, o filme foi bem recebido pelo público sendo o filme nacional mais visto naquele ano. A grande crítica ficou a cargo de efeitos especiais no Tribunal das Almas que alterou os portais do céu e do inferno mostravam cenas digitais que foram consideradas artificiais e não demonstraram o efeito dramático desejado.

O filme ganhou vários prêmios no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, vencendo em melhor roteiro,melhor lançamento, Guel Arraes melhor diretor e Matheus Nachtergaele melhor ator.

O filme foi lançado no circuito internacional e recebeu críticas positivas dos países da América do Sul, nos Estados Unidos o filme ganhou o nome de “Dog’s Will (Testamento de um Cachorro)”. No Rotten Tomatoes tem uma taxa de aprovação de 94%, e no IMDb possui avaliação de 8.6 de 10.

Tendo sido filmado em Pernambuco, contou com efeitos práticos quando necessário , todo o cenário transforma a cidade de Taperoá em um vilarejo com uma sociedade ativa. 

O intuito da obra é chamar a atenção para a seca, a probreza extrema, o coronelismo, a injustiça social e a conveniência religiosa.

O auto da compadecida de 1999 em formato de minissérie ou em 2000 em formato de filme, e uma maravilhosa obra de audiovisual, fez e ainda faz um enorme sucesso por ser atemporal, ou seja, a mensagem ainda é passada sem necessidade de uma revitalização histórica. João Grilo e Chicó continuam sendo os representantes do povo oprimido que tem que sobreviver através de artimanhas, o clero flerta com a política e os dois chafurdam a cara do povo e o cangaceiro apresenta a revolta do oprimido.

 

Após 24 anos, foi lançado o Auto da Compadecida 2, trazendo de volta a dupla de amigos João Grilo e Chicó. Tendo sido um grande sucesso em 2000, foi realizado uma “homenagem” desta obra realizando uma continuação. Com muito alarde e trazendo os protagonistas originais, O Auto da Compadecida 2, infelizmente não consegue beber da água e criatividade e tentar repetir uma história já consagrada, porém o faz mal e porcamente. Iniciando pela cidade de Taperoá que está totalmente digitalizada, pois, o filme foi realizado totalmente dentro de estúdio mostra uma cidade totalmente decadente, sem estrada, com casas e igreja caindo aos pedaços, e o pior sem nenhuma explicação plausível para isso. Chico fica explorando a história da ressurreição de João Grilo para ganhar algumas moedas. Não há um núcleo opressor definido, a volta de João grilo e pouco explorada, já que no final do filme anterior ele sair Taperoá e,aparentemente vai para uma grande cidade, segundo ele, não se deu muito bem , a essa trama e  superficial como se não fosse importante, e seria uma boa maneira de explorar as imigrações que se repetem sejam em território nacional ou internacional. Segundo Chico, Taperoá começou a ter um movimento de turismo em torno da ressurreição e João Grilo, que explorada por Chico,mas não se manteve e a cidade acabou caindo novamente em problema e seca, ha um novo coronel, e o Cabra cangaceiro do primeiro filme permanece na cidade e passa a acreditar na ressurreição de João quando o vê. Porém o elenco é pequeno trazendo como única novidade o Arlindo dono da Rádio, vivido por Eduardo Sterblitch. Nesse segundo filme fica explícito o analfabetismo de João Grilo, mas isso não pode ser considerado nenhuma surpresa, a volta de Rosina seu amor do primeiro filme não traz grande desenrolar ao filme, e após um plano para ajudar Chico com suas dúvidas e tentar deixar o povo de Taperoá mais independente de um culto religioso, novamente João Grilo morre, e novamente ele vai parar no Tribunal das Almas, novamente e Julgado pelo Diabo e por Jesus e novamente pede a intercedência de Nossa Senhora. Não se por falta de orçamento, ou por não ter entrado atores que queriam participar deste filme, essas duas entidades sao representadas pelo Matheus Nachtergaele, nao ha como negar que é uma bela interpretação, mas vale ressaltar aqui que tanto o Diabo quanto Jesus são dublados por Selton Mello, e nao sei se para compensar a falta de elenco esse aparente subterfúgio ficou bom. Thais Araújo interpreta Nossa Senhora fica impossível não achar que ela tenta imitar a Fernanda Motenegro. Pode nao ser de propósito,pode ser a referência que ela tem em mente de maneira subconsciente, ou o mais provável que tenha sido guiada pela direção do filme.O final do filme também acaba sendo uma repetição do primeiro, com a ressurreição de João sua fuga da cidade, com Chico ficando sozinho. 

Infelizmente Auto da Compadecida 2, não traz novidades para esse universo, os efeitos digitais s’ao pobres e acabam por deixar a obra com uma aparência de filme remendado,  o tirando Matheus e Selton o elenco não parece se esforçar muito, Eduardo Sterblitch e muito caricato e parece um personagem dublado de novela mexicana, enfim O Auto da Compadecida 2 poderia ter sido ousado para trazer a pauta problemas sociais importantes ou apenas ser uma divertida comédia de dois grandes amigos malandros, acabou sendo um desperdício de tempo e uma decepção que mancha pouco o sucesso de 2000.

E vocês, já assistiram o Auto da Compadecida? Assistiram a continuação? Concordam comigo? Deixem nos comentários o que acharam, até o próximo post.

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